domingo, 12 de outubro de 2008

Meu Jeito "Hipérbole" de Ser

Acordei muitíssimo cedo, exatamente 10:37:45.
Espreguicei-me como um bicho preguiça: Lentamente, como naqueles filmes românticos, em que os casais se encontram e o tempo pára, e depois vai vagarosamente acontecendo o desfecho do filme, aquele beijo em câmera lenta.
Assim que sentei-me na cama de casal, que é do tamanho de casa, senti um vazio no peito, como se estivesse perdendo alguma coisa, alguma parte de mim...
...Meu útero!!!!
Inclinei tanto a cabeça, que estive ao ponto de dar uma cambalhota, e pude constatar: Adiós a mis hijos!! Adiós mi vida!!
Fiquei desesperada! Não podia deixar o meu futuro escorrer desta forma, como uma queda de cachoeira, indo rio abaixo!
Qualquer movimento brusco, um piscar de olhos, fazia litros e litros fluírem colchão adentro. Senti-me no Mar Vermelho.
Com muita coragem, levantei. Chuááááááááá!!
Hemorragia. Desidratação. Anemia.
O caminho da cama até o banheiro do meu quarto nunca foi tão longo, estava a quilômetros de distância: Mil calçados e roupas, até perco as contas de quantas vezes tropecei nesses enormes obstáculos.
Me despi das unhas dos pés até os fios de cabelo e entrei debaixo do chuveiro. A água estava pelando, pensei que me causaria muitas queimaduras de terceiro grau. Olhando para o chão do box, vi que muita água vermelha lutava, a socos e pontapés, a caminho do ralo. Ficou difícil saber se era a tinta escorrendo do meu cabelo ou não.
Resolvi me ensaboar. O sabonete estava tão pequeno, que não dava para lavar sequer a pinta do meu mindinho.
Desliguei o chuveiro e enrolei-me na toalha, que era do tamanho de um vestido de noiva com calda de uns cinco metros, passando pelo quarto, rumei até a despensa. Ao voltar, percebi que havia um rastro de sangue por toda parte. Fiquei com medo. Teria um assassino na minha casa? Pior....seria ele um estuprador?
Olhando para os meus pés, vi que havia uma poça de sangue. Será...que...ele...está...atrás...de...m-mi-mi-im-mim? Antes que pudesse pensar, e ficar com mais medo, vire-me. Pá! Não-tinha-na-dááá!! Uffa! Fui então caminhando e seguindo as gotas de sangue, e de repente...Meu Deus! Estão indo para o meu quarto! Como estava na cozinha, resolvi pegar uma faca para me proteger. Ela era do tamanho da minha barriga, assim...imeeeeennnsa! Então, continuei seguindo os rastros que chegaram até o banheiro. Parei na porta e empunhei o mortífero instrumento afiado e cortante, e tcharããã!!!
Não tinha ninguém no banheiro. Estava deserto, ás moscas, dava para ouvir os "cri-cri" dos grilos. Decidi voltar ao banho.
Do nada, começou a cair um vendaval lá fora, o céu parecia despencar, e toda água do Sistema Solar caindo sobre a minha casa. O fim do mundo. Um raio caiu tão perto, mas tão perto, que devia ter destruído a casa ao lado. Pobre Sr.Nelson! Fiquei com dó dele. Sem casa, sem abrigo, sem ninguém...Isso se ele tivesse sobrevivido! Pobre homem! Imaginei ele todo queimado, um pão com manteiga que passara do ponto na torradeira.
Isso me deu fome. Estava com tanta fome, que poderia comer um boi sozinha! Não um boi apenas, mas também vinte litros de refrigerante, dois litros de leite condensado com quinze caixas de morangos bem fresquinhos.
Imagine-me uma baleia. Uma orca. Sairia na rua e as pessoas diriam: "Sancho Pança! Quanto tempo! Como vai o Dom Quixote?", ou melhor, "E aí, Free Willy, tudo beleza?". Perguntariam se eu estava grávida dos "101 Dálmatas", ou se eu teria sido o balão Zepelim. As crianças, extasiadas: "Mamãe! Olha! O "Titanic está aqui no mercado!", ou quem sabe, "Papai! Olha! Júpiter está aqui na Terra!".
Todos ficariam incomodados comigo, e me matariam. Depois, assariam-me, e o Governo distribuiria aos pobres do país todo, a carne mais nutritiva e gorda de todo Universo.
Pensando desta forma, até que seria uma ótima idéia, eu ajudaria a acabar com a fome no Brasil. Dominada pela solidariedade, saí do banho e deitei-me na cama. Minha cabeça estava tão cheia de idéias, que afundou no colchão e quase fico de ponta cabeça. Mas não importa. Nada mais importa, além das pessoas famintas e sedentas que, a partir de agora, iria ajudar.
Resolvi colocar tudo no papel, nos mínimos detalhes e proporções, para que depois ninguém pense que estou exagerando.


Por Mirabelle