Há tempos não escrevia. Não sentia a sensação anuviada de me perder por entre o vasto vocabulário existente, não experimentava a emoção de conseguir expressar-me em um caderno velho, transmitindo meus pensamentos à caneta, e esta, transcrevendo palavras desengonçadas – porém verdadeiras – que vão preenchendo as linhas do papel posto à minha cama, iluminado por um abajur à bateria.
Ah sim, a caneta. Cor vermelho-ferrugem-bordô, da mesma tonalidade dos meus fios de cabelo. Sempre quis ter uma assim. É incrível como ela dança suave e macia sobre a superfície da folha de papel. “Para a futura escritora”, disse. E uma inquietação tomou conta de mim. Ele achava que não, mas me conhecia bem.
Coincidência usa-la justamente hoje? Não, creio que não. Coincidências não são tão comestíveis ao meu ver. Tudo na vida tem um propósito, nada é por acaso. Mas sim, hoje. Três exatos meses após um desafio ser selado. Confesso que ao mesmo tempo que esses meses parecem ter transcorrido e escorrido rapidamente por entre meus dedos, eles passaram vagarosa e lentamente, dando a sensação e o frenesi de que há tempos, já dividia minha vida com esse alguém.
Ah, esse alguém! Que tem uma enorme paciência para comigo, que me irrita com coisas bobas mas também me agrada com coisas simples, que já quase me perdeu uma vez, mas que soube me reconquistar ao ponto de me fazer prestar atenção nas demais vertentes de um relacionamento, que me deixa preocupada e aflita, mas me tranqüiliza dando-me um abraço aconchegante e dizendo que tudo vai ficar bem, que se esforça para entender o que se passa na minha mente turbulenta, que me acompanha nas minhas atividades, nos meus hobbies, que me ajuda com as minhas obrigações…Alguém que é tão diferente de mim, tão calmo e paciente, tão mais razão do que emoção, tão prático e simples…Mas que consegue compreender um pouco do meu nervosismo, da minha ansiedade, do meu jeito hipérbole de ser, da minha complexidade e perfeccionismo. Esse alguém que torna certos dias ruins toleráveis, momentos de tensão mais reflexivos, discussões em trocas de ideias e aprendizado. Alguém que pode não ser minha metade, mas é meu inteiro.
Nesse meu “retorno”, deixo aqui registrado o quão difícil é compartilhar sua vida com alguém, mas o quão fácil pode-se tornar se este alguém está disposto a ser recíproco. Breguices à parte, fico feliz por estar de volta. As cores parecem mais vivas, o ar mais limpo e o perfume mais doce e fresco. Sim, desta vez vim para ficar, e não há nada que me desvie do meu objetivo: escrever.
"Escrever é doar ao mundo aquilo que existe dentro do seu mundo." E cá estou eu: doando.
Escrito dia 03 de Janeiro de 2011 – Segunda Feira – às 11h48 p.m Por Tamires Lemos de Assis
#Ao som de Jorge Aragão(minhas músicas prediletas)