quarta-feira, 6 de julho de 2011

Escrever sobre escrever.

            Não escrevia mais. E tal pensamento percorria todo o seu corpo e a sacudia por inteiro, como se dissesse: "Ei, reaja!". Mas nada. Nada além do mal estar e náusea de si mesma fazia com que tomasse uma atitude, algo que finalmente resolvesse o seu problema, que colocasse tudo nos eixos, como alguns anos atrás.

            Não eram os amores, as dores ou águas passadas, não era a faculdade, o trabalho ou os amigos. No fundo, ela sabia da verdade. De cor e salteado, por sinal. Sabia que culpar terceiros ou suas atividades corriqueiras não a isentaria dos seus próprios atos. Ela era mesma a culpada, sim senhora. Ela mesma. Quem andava arrastando os pés, se lamuriando por aí, se esquivando das responsabilidades e culpando Deus e o mundo pela sua péssima desenvoltura, pelos seus hábitos repulsivos, pelos seus pensamentos inférteis e sua famigerada administração errônea do tempo que tinha. “Não tenho tempo para ler os meus livros”, dizia. Mas era mentira. Tempo não lhe faltava, o que estava em falta realmente era vergonha na cara, a única coisa que a faria mudar de atitude, traçar metas de leitura, por exemplo, e fielmente cumpri-las. Fez isso durante anos a fio, por que agora é tão complicado? Por que hesita? Talvez, talvez... Seja por que agora, é dona da razão. Antes tinha sede pelo conhecimento, devorava livros, assim como se devora um prato de brigadeiro, mas hoje se subestima demais, ou se superestima. É um revezamento infinito de comportamentos, que acabam sempre deixando os livros de lado.
            
            O vestibular chegou e, com ele, a falsa idéia de estar fazendo a coisa certa, apesar do medo latente. A opção Letras foi escolhida como curso desejado, prestou uma, duas três. 2011 chegou e lá para meados de Fevereiro, os resultados. Passou em uma, duas, três. Grande coisa, e agora? Qual escolher? Optou pelo conforto, pela sua cidade, família, amigos, namorado. Nos primeiros meses oscilava entre “Estou arrependida” e “Fiz a escolha certa”. Depois tudo se acalmou. Tomou a segunda opção para si e assinou em baixo, escreveu em um pedaço de papel e colocou na geladeira, assim, assim, para todos verem. Grande coisa.

            De tempos em tempos, pensava em escrever algo, uns rabiscos quaisquer, só para dizer “Ainda escrevo”. Mas ficava só no pensamento. Era um misto de preguiça, falta de: criatividade, paciência e coragem. Sentia falta das palavras, isto bem é verdade, mas não de quaisquer palavras, e sim das suas, aquelas que corriam livremente pela folha de caderno, sem nenhuma simetria, regra, estética ou censura. Eram suas então as escrevia como bem entendia. E o Diabo que carregue aquele que por chacota ou má vontade zombasse de seus garranchos. Não importava, eram garranchos sim, não negava. Mas eram exclusivamente seus, assinados em baixo com seu nome. Seu “T” que parece “H”. “E dane-se quem acha que ele é “H”, por que cargas d’àgua  tenho que escrever como todos?”, dizia. E sorria. Era sua marca, seu nome, seu “T” que parecia um “H”, suas palavras.


Por Tamires Lemos de Assis

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